sexta-feira, abril 27, 2007

Ainda uma promessa

A promessa do crédito imobiliário, no Brasil, ainda não passa de uma promessa.

O segmento está crescendo vigorosamente, é verdade, mas sobre uma base de comparação pífia. E longe de representar um "boom", como o que se viu em países que caminharam rapidamente nessa direção, caso da Espanha, do México ou do Chile.

Prova de que a estabilidade macroeconômica e o aumento de renda da população é uma condição necessária, mas não suficiente para provocar tal expansão. Há também questões de ordem regulatória e burocrática que precisam urgentemente serem resolvidas.

Vale lembrar que o crédito como proporção do PIB no Brasil só é baixo na comparação internacional devido ao crédito imobiliário. Excluído esse segmento, temos uma das proporções mais elevadas entre os países emergentes.

quinta-feira, abril 26, 2007

Visionário

"A primeira coisa a fazer-se no Brasil é abandonarmos a chupeta das utopias em favor da bigorna do realismo. É tempo de balanço e autocrítica. E, sobretudo, de ginástica institucional, a fim de nos prepararmos para a quarta onda de crescimento do pós-guerra, que provavelmente advirá na primeira década do milênio, apoiada em três revoluções tecnológicas:

- A revolução da Internet, que eliminará vários constrangimentos de tempo e espaço;

- A revolução da engenharia genética, que depois do facasso da engenharia social em reformar o homem moral, pode ter sucesso na reformatação do homem físico;

- A revolução da nano-tecnologia que, pela miniaturização, substituirá nos produtos, cada vez mais o insumo físico pelo insumo cognitivo.

Para a minha geração, confiante em que o Brasil chegaria ao ano 2000 não como país emergente e sim como grande potência, forte e justa, este fim de século é melancólico. Estamos ainda longe demais da riqueza atingível, e perto demais da pobreza corrigível. Minha geração falhou."

Palavras do economista Roberto Campos, em sua posse na Academia Brasileira de Letras, em 1999. Assustadoramente atuais.

quarta-feira, abril 25, 2007

Avião sem asa

A rentabilidade de alguns bancos de pequeno e médio porte surpreenderam neste final de 2006 e começo de 2007.

Há, no entanto, algumas distorções. Entre elas as vendas de suas carteiras de crédito para grandes bancos de varejo.

Alívio. Temporário?

Entre os funcionários do ABN Amro no Brasil, foi recebida com alívio a notícia de que o banco será adquirido pelo inglês Barclay's.

Afinal, trata-se do banco com menor sobreposição de atividades com o ABN por aqui se comparado aos outros interessados nessa aquisição. Caso, por exemplo, do Santander.

No Brasil, o Barclay's atua hoje apenas por meio de seu braço de investimentos, a Barclay's Capital (BarCap), focada no mercado de derivativos e com cerca de 50 funcionários.

De qualquer forma, muita água ainda deve rolar nessa negociação. A recente proposta do grupo formado pelos bancos Royal Bank os Scotland, Santander e Fortis, de US$ 98 bilhões, promete agitar as discussões entre acionistas do banco holandês.

sexta-feira, abril 20, 2007

Alimentando o fogo amigo

O convite feito pelo presidente Lula ao economista Roberto Mangabeira Unger (o mentor intelectual de Ciro Gomes na área econômica) para assumir a futura Secretaria de Ações de Longo Prazo do governo, com status de ministério, deixou muita gente com o cabelo em pé em Brasília.

Não apenas porque o economista já chamou Pedro Malan e Dona Ruth Cardoso de os "deuses de Lula", numa clara crítica ao que considera uma política econômica extremamente ortodoxa do governo, mas pelo poder que em tese terá nas mãos.

Afinal, a secretaria será responsável pelo planejamento de longo prazo para o País (sim, aquela idéia do ex-ministro José Dirceu que nunca foi para frente), inclusive na área econômica. Vale lembrar que as idéias de Unger para a economia nunca foram das mais populares entre a equipe econômica, sobretudo na Fazenda e no Banco Central.

Pior: a secretaria deve englobar o IPEA, hoje vinculado ao Ministério do Planejamento, aí sim um foco de resistência explícito em relação ao posicionamento ideológico do economista - que segundo consta já aceitou o convite feito por Lula.

O potencial de ruídos é enorme. Não bastassem os que já existem.

quinta-feira, abril 19, 2007

Finalmente

O caso de "insider trading" na aquisição da Ipiranga é inédito. E, sem exagero, pode ser considerado um marco histórico.

Trata-se da primeira atuação conjunta da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Procuradoria Federal Especializada (PFE) ali lotada com o grupo especializado na área de mercado de capitais do Ministério Público Federal (MPF).

A aproximação entre CVM e MPF foi tentada diversas vezes no passado, mas nunca havia chegado a um bom termo. A partir de dezembro de 2006, após muita discussão - e definição de atribuições - esse namoro finalmente virou casamento.

Bom para todo mundo, sobretudo para a credibilidade do mercado de capitais.

Agora, os fundos de pensão e a SPC são o novo alvo de aproximação do Ministério Público. Em breve, a Polícia Federal também deve ingressar nesse grupo de trabalho conjunto.

Leia mais em: http://www.executivosfinanceiros.com.br/destaques_mostra.asp?id=15

quarta-feira, abril 18, 2007

Tudo é possível

A operação global do ABN Amro está sendo vendida. Certo.

O Itaú comprou a fatia de Private Banking do ABN Amro em Miami e Montevidéu. Certo.

Já havia comprado, em 2004, a carteira de fundos mútuos do ABN Amro Asset Management na Argentina. Certo.

Há quem veja aqui sinais sobre a possibilidade de o Itaú levar a operação brasileira (ou latino-americana) do ABN Amro. A conferir.

Mais do mesmo

A carga tributária nunca passou dos 35% do PIB no Brasil.

Sonho? Não. Apenas o efeito da aplicação da nova metodologia do PIB em indicadores do passado.

Confira uma tabela elaborada pelo economista Amir Khair com esse "Antes" e "Depois":


Antes




Depois




Convenhamos, o "depois" ficou bem mais bonito. Só que não muda em nada a realidade de nossa economia.

terça-feira, abril 17, 2007

Corrida

A aquisição das operações globais do ABN Amro, terceiro maior banco privado do Brasil, pode resultar em mudanças profundas no ranking de ativos totais do sistema financeiro nacional.

Pelo andar da carruagem, o ABN Amro está mais para ser adquirido pelo grupo formado por Santander, Fortis e Royal Bank of Scotland do que pelo inglês Barclay's.

Caso o Santander fique com as operações de varejo do ABN no Brasil, seus ativos totais podem ultrapassar os R$ 220 bilhões, segundo números do Banco Central.

Seria o maior banco privado do País.



Há, de qualquer forma, outros grupos na parada, como o Bank of America e o Citigroup. Um anúncio oficial sobre a operação deve sair até o fim desta semana.

quarta-feira, abril 11, 2007

CPMF: o começo do fim?

Depois de muito ensaio, parece que finalmente o governo decidiu mexer na CPMF, reduzindo-a gradualmente nos próximos anos, primeiro para os empréstimos, depois para outras operações.

Ao contrário de outras promessas do governo Lula que não saíram do papel (só para citar duas: cadastro positivo e capital contaminado), essa tem tudo para vingar.

Por um simples motivo: acabar com a CPMF (ou melhor, torná-la um mero instrumento de fiscalização) tem uma força descomunal sobre o eleitorado, ainda mais em se tratando da visível falta de nomes no PT para substituir Lula em 2010.

A conferir.

História de uma aquisição

A compra do BankBoston pelo Itaú começou, de fato, no final de 2003, quando o Bank of America concluiu o processo de compra do FleetBoston. Pouco tempo depois, o CEO do BofA, Ken Lewis, solicitou ao presidente do Boston no Brasil, Geraldo Carbone, que lhe apresentasse sugestões sobre como o maior banco de varejo norte-americano poderia se tornar grande também no Brasil. Mais: no segmento varejo, área em que o BankBoston não tinha presença forte.

Meses depois, Lewis ouviu de Carbone três propostas: 1) a compra do Unibanco; 2) a aquisição pelo BofA das operações globais do Santander ou do ABN Amro - assunto que havia sido cogitado algum tempo antes na matriz do BofA em Charlotte e que ainda aparece em rodas de conversas entre executivos do banco; 3) a participação estratégica em um grande banco doméstico, na qual o Itaú seria o principal alvo.

Nessa discussão, a compra do Unibanco, isoladamente, foi logo descartada: não seria suficiente para competir em pé de igualdade com os grandes, a média de retorno do banco não era nenhuma "Brastemp" do setor e a integração com o Boston local não mudaria muito essa realidade.

A segunda opção, obviamente, não cabia ao presidente do Boston local dar opinião. Carbone afirmou apenas que, assumindo o Banespa (Santander) ou Real (ABN), faria sentido comprar o Unibanco e, aí sim, brigar em pé de igualdade com os outros grandes.

A terceira alternativa foi a que mais interessou ao CEO do BofA. Em um "Brazil Day" promovido nos EUA, durante o jantar, Lewis foi apresentado ao presidente do Itaú, Roberto Setubal, com quem passaria a se encontrar com alguma freqüência para discutir uma possível parceria dentro de um futuro próximo. O assunto ficou em suspenso, no entanto, por conta da aquisição de uma fatia do banco chinês Construction Bank, que consumiu um demorado esforço dos principais executivos do BofA.

A partir daquele momento, apenas os executivos de extrema confiança de Setubal no Itaú (que podem ser contados nos dedos de uma única mão) e a cúpula do BofA em Charlotte passariam a acompanhar as negociações, que foram amadurecendo até a conclusão do acordo.

Um dos poucos pontos de atrito nas negociações ocorreu por conta de a direção local do BankBoston só tomar conhecimento das negociações no final de março, quando Carbone foi chamado por Lewis para ouvir dele que o anúncio oficial ocorreria dali a apenas quatro semanas.

Chocado com a notícia, Carbone questionou o fato de não ter sido avisado anteriormente e, ante a resposta de que os processos no BofA aconteciam daquele modo, retrucou que não haveria problema se não o tivessem envolvido diretamente no começo das negociações. "Não foi limpo", disse ele a Lewis, em um ambiente já carregado de alguma tensão.

Ouviria ainda do CEO do BofA que a informação não poderia ser comunicada nem à sua equipe mais próxima no Brasil. Irritado, o presidente do Boston no Brasil colocou à mesa as seguintes opções: ou o BofA o demitia ou ele voltava ao Brasil e pedia demissão de seu cargo, alegando razões pessoais. Ou, ainda, revelaria a transação aos seus assessores diretos. "Não fazia sentido eu saber que um anúncio daqueles seria feito em tão pouco tempo e eu, sabendo disso, não revelasse à minha equipe. Seria desleal", teria dito Carbone a um amigo pouco tempo após voltar de Charlotte.

Após muita discussão, ficou decidido que somente a cúpula do BankBoston no Brasil tomaria conhecimento da informação. "Como eles precisavam de alguém que conhecesse cada detalhe da operação do Boston no Brasil para acertar detalhes e fazer a transição, acharam melhor que eu ficasse mesmo com quebrando a norma habitual do banco", contou o executivo do Boston ao amigo.

Apesar desse ruído - e talvez até incentivado por ele - o trabalho de integração entre o BankBoston e o Itaú, coordenado pela McKinsey, foi feito de maneira bastante cautelosa. Partiu do próprio Setubal a determinação de que as conversas no processo de integração fossem feitas de maneira cordial, inclusive sob ameaça de que se, caso perdesse um funcionário do Boston por conta de eventuais truculências, a coisa ficaria feia para o responsável.

"Eles foram perfeitos cavalheiros", conta um alto executivo do banco envolvido na integração.

terça-feira, abril 10, 2007

Sinal dos tempos

Ontem, tomou posse como presidente da Febraban o primeiro executivo de um banco de capital estrangeiro nesses 40 anos da entidade: Fábio Barbosa, do ABN Amro.

"Para mim, não faz a menor diferença. Me sinto como um banco brasileiro", disse Barbosa.

Seu antecessor, Marcio Cypriano, do Bradesco, deixou o cargo sem cumprir uma promessa anunciada no dia de sua posse: promover ações que mudassem uma visão ainda negativa que a sociedade brasileira tem do sistema financeiro.

Em busca de uma identidade

O Citigroup anuncia amanhã uma ampla reestruturação de suas atividades em nível global, possivelmente a maior já feita pelo conglomerado financeiro norte-ameriacno.

As mudanças envolvem cortes severos de pessoal e de áreas em diversos países.

No Brasil, o impacto aparentemente será restrito.

Voltando

Após breve período ausente, começo hoje a retomar gradualmente o Blog.


Espero que gostem.