Um interessante e sarcástico desabafo do economista Fernando Montero, impressionado com tamanho otimismo do mercado financeiro para fundamentos econômicos ainda distantes de uma "Brastemp".
"Em três meses veremos que:
1) não faremos 4,25% de primário;
2) que não existe tal coisa de piloto automático em Fazenda (hoje é o pacote agrícola, amanhã o governo forçado a contingenciar decisões do próprio governo);
3) em Brasília não sobrou ninguém.
Em seis meses veremos que:
4) câmbio de R$2,10 não é equilíbrio;
5) agricultura não está em equilíbrio;
6) previdência com salário mínimo de US$ 170 não está em equilíbrio;
7) BC não corta juros com eleições na porta, gastos públicos explodindo e economia crescendo 6%.
Em nove meses veremos que:
7) 4,5% de inflação com -13% de IPA agrícola e -20% de câmbio não é equilíbrio;
8) investimento crescendo 7% contra PIB de 4% não aumenta o crescimento potencial em um ano;
9) redução prometida da carga é realidade, sim, mas para 2007 e coincidente com aumento cheio em doze meses de despesas (até porque inflação este ano será muito baixa). O que significa, com menos carga e mais gasto corrente impactando em cheio 2007, o desaparecimento definitivo do investimento público.
Mas nada disso preocupa o mercado por que:
10) A economia estará blindada;
11) a política econômica é do Lula;
12) os fundamentos são fortes;
13) estamos a um passo do investment-grade;
14) o BC está sempre nas mãos de fundamentalistas malucos".