quinta-feira, junho 30, 2005

Mais pistas...

Outra novidade importante no depoimento de Jefferson: com o suposto esquema das "malas" de dinheiro ficando sob suspeita em Brasília, os pagamentos do mensalão passaram a ser feitos aos assessores dos parlamentares numa agência de pagamentos do Rural localizada no 9º andar do Brasília Shopping.

"Hoje não sei, mas até um passado muito recente isso (os pagamentos) vinham sendo feitos ali", disse o depoente.

Jefferson sugere lupa sobre o BB

Das poucas novidades apresentadas até agora (17h00) no depoimento de Roberto Jefferson à CPI dos Correios, destaca-se a sugestão para que se investiguem também saques no Banco do Brasil, e não apenas no Banco Rural.

Jefferson disse que do dinheiro (os tais R$ 4 milhões) que recebeu do PT, mais ou menos 60% das notas traziam o carimbo do BB. Pista que precisa ser investigada pelo COAF.

No mais, numa coisa ele tem razão: a diferença entre o dinheiro praticado e o declarado nas campanhas eleitorais, todo mundo sabe, é enorme.

quarta-feira, junho 29, 2005

Tirando o pé do acelerador, pero no mucho

As alardeadas reduções de volumes negociados no mercado financeiro como resultado da crise política ainda não aparecem nos números do mês de junho.

Para surpresa de muitos, tanto a média dos volumes diários da Bovespa quanto as dos principais ativos operados na BM&F são ou maiores ou praticamente iguais ao mês anterior.

Só se nota uma pisada no freio um pouco mais visível nos últimos dias, período em que o petróleo voltou a embaçar o horizonte do cenário externo...

Aproveitando o IPEA

Uma boa notícia: finalmente o Ministério do Planejamento percebeu que tem abaixo de si um orgão com a competência e a estrutura do IPEA.

Anda demandando trabalhos e mais trabalhos para os pesquisadores do Instituto, sobretudo na área fiscal.

Sabe-se que o Planejamento vê com bons olhos, por exemplo, a proposta do IPEA de reduções graduais e escalonadas para a CPMF nos próximos anos.

Receita para crescer o bolo?

Adicione uma porção de declarações da ministra Dilma Roussef sobre o superávit primário, coloque uma pitada das mudanças incluídas na LDO de 2006, misture bem com a visão otimista do Banco Central e Fazenda sobre o comportamento da economia no segundo semestre e, por cima de tudo, tempere com as afirmações do ministro Paulo Bernardo sobre a gestão fiscal "extra prudente"(sic) no primeiro semestre do ano e também com a insatisfação dos parlamentares e dos ministros com a falta de verbas no governo.

Coloque no forno.

O prato final poderá ser, na visão de alguns economistas, o setor público como uma grande mola propulsora para a atividade no segundo semestre do ano, com um baita desaperto fiscal.

Será preciso observar, neste banquete, como ficará a digestão da política monetária...

terça-feira, junho 28, 2005

LDO joga poeira no fiscal

Duas mudanças no substitutivo do projeto da LDO para 2006 que andaram incomodando os analistas das contas públicas:

1) O impedimento para que seja transformado em aumento de superávit primário as receitas tributárias que excederem o teto de 16% do PIB estabelecido na lei. Cria-se assim, afirmam, um teto para o primário.

2) Os parâmetros para a inclusão do superávit anti-cíclico na LDO. Grosso modo, se o PIB real crescer abaixo dos 4,5% previstos na LDO de 2006, se reduz o primário - ou melhor, sua meta - em até 0,25% do PIB. Esta projeção de crescimento é irrealista. Ao menos hoje.

O substitutivo teve o cuidado de incluir uma cláusula que impede esta redução da meta caso ela gere um aumento da dívida/PIB no ano. De qualquer forma, é também verdade que sua aplicação pode impedir uma queda mais rápida desta relação.

Schin: Operação de Guerra

Todos os dias, invariavelmente, diversos jornalistas têm recebido por e-mail mensagens anônimas com notícias e comentários ora defendendo a cervejaria Schincariol, ora atacando a Ambev e a Polícia Federal.

O fato é que a Schin cresceu, mas manteve as mesmas práticas de uma empresa pequena.

O que leva, aí sim, a um debate muito mais amplo sobre este grave problema que é a carga tributária no País: muitas empresas preferem continuar pequenas para, fora do radar do Fisco, continuarem sobrevivendo.

Barclay's, de volta ao Brasil

Depois de quase cerrar as portas no mercado brasileiro, o gigante inglês Barclay's está de volta ao País.

Atuará através de seu braço de investimentos, o Barclay's Capital.

O banco está remontando sua estratégia de atuação e contratando profissionais de peso no mercado financeiro.

Estrangeiros x Locais

É visível a diferença de percepção entre os investidores locais e os estrangeiros em relação aos desdobramentos da crise política no Brasil.

Recentemente, um dos maiores dealers da dívida externa brasileira realizou pesquisa com seus clientes com a seguinte colocação: você acha que a crise política vai piorar, se manter no mesmo nível ou melhorar?

Dos clientes locais, 63% responderam que a crise irá piorar. Entre os estrangeiros, esse porcentual cai praticamente à metade.

Detalhe importante: a crise piorar não significa falta de apetite por novas compras de ativos domésticos. Há muita gente, sobretudo os estrangeiros, vendo nesta crise uma ótima oportunidade de se comprar Brasil a preços atrativos.

Desburocratizando o acesso do estrangeiro

O Tesouro Nacional já fechou a redação de seu plano para facilitar o acesso do investidor estrangeiro ao mercado doméstico de renda fixa. O projeto agora foi submetido à avaliação da Fazenda e do Banco Central. Depois, segue para debate com os agentes do mercado financeiro.

Sem mexer na tributação, o plano caminhará essencialmente no sentido de desburocratizar as compras diretas de títulos públicos por parte de investidores localizados fora do País.

Entre as medidas prováveis, estão a possibilidade de o investidor externo utilizar provisoriamente seu número de registro na CVM para fazer uma operação (a demora para obter o CNPJ na Receita Federal é uma verdadeira dor de cabeça para esse investidor) e também um prazo de liquidação defasado (D+2, por exemplo) nas compras, como ocorre lá fora.

O Tesouro não quer, de qualquer forma, dar ares de "pacotão" às medidas. Na verdade, prefere que elas fiquem, ao menos por enquanto, o mais discretas possíveis.

segunda-feira, junho 27, 2005

Desaperto Fiscal?

O aumento nos gastos de Outras Despesas de Custeio (OCC) do Governo Central em maio (R$ 1,9 bilhão) chamou a atenção dos fiscalistas de plantão: o valor reduz o tamanho dos superávits primários acumulados até agora e podem indicar algum expansionismo nos gastos públicos até o final do ano.

Petróleo, o fantasma de volta

Voltou a preocupação com os preços internacionais do petróleo. E, novamente, com as análises mais díspares possíveis sobre o seu comportamento futuro. Uma boa mostra de que, no fundo mesmo, ninguém sabe ao certo onde isso vai parar.

Para os preços dos combustíveis aqui, uma boa notícia: se de um lado o petróleo fica mais caro lá fora, por outro o câmbio vem ajudando.

A Petrobras já andou avisando: não vê necessidade de reajuste nos preços domésticos...

Revistas

Resumo das revistas neste final de semana: lembra das diversas pistas apontadas nas teatrais aparições do deputado Roberto Jefferson? Marcos Valério, Banco Rural, Skymaster?

Pois bem, estão todas se confirmando.

Nesse ambiente, muita gente em Brasília já começa a ficar preocupada com a possibilidade de a dinheirama envolvida nas denúncias de corrupção não se referir exclusivamente ao "mensalão".

sexta-feira, junho 24, 2005

BNDES: de olho na renda fixa local

O anúncio hoje de que o BNDES pretende emitir debêntures próprias é um dos primeiros passos do grupo de renda fixa que o banco vai formatar na renovação de sua área de Mercado de Capitais, com o objetivo de reforçar o mercado doméstico de renda fixa.

Segundo uma fonte credenciada da instituição, o BNDES não pretende mais fazer emissões no mercado externo. Isso levará automaticamente, com o decorrer dos vencimentos externos, ao fim da parcela compulsória em moeda estrangeira que as empresas exportadoras são obrigadas a tomar nas suas linhas de empréstimo junto ao banco.

Parcela que é uma verdadeira dor de cabeça para os diretores financeiros destas empresas: por ser lastreada numa cesta de moedas, é simplesmente impraticável fazer o seu hedge no mercado financeiro.

Para mim, para os meus...

Curiosa a crença das pessoas sobre as denúncias de corrupção que envolvem hoje o PT: depois de tantas evidências, é difícil encontrar hoje quem não acredite no tal do "mensalão". Mas é igualmente difícil encontrar alguém que acredite que alguns de seus principais suspeitos, caso do ministro José Dirceu, tenha se beneficiado pessoalmente deste suposto esquema de corrupção.

De qualquer forma, uma coisa é tão errada quanto a outra.

E agora, Tesouro?

O Tesouro Nacional encerrou, com a reabertura do Global 15 nesta semana, o seu programa de financiamento externo de 2005. Dá margem para se imaginar o que vai fazer a partir de agora.

Criar um colchão de liquidez para 2006 com as próximas captações seria um caminho natural, mas há duas possibilidades que não podem ser descartadas: 1) a recompra total ou parcial de C-Bonds no mês de outubro ou; 2) o pagamento antecipado de parcela das obrigações do governo brasileiro com o FMI, especialmente a linha SFR, bem mais cara que o custo de uma emissão com prazo semelhante.

quinta-feira, junho 23, 2005

Dirceu e a trincheira

Ao contrário do que muita gente pensa, o ex-ministro José Dirceu nao vivia só a atacar a política econômica comandada pela Fazenda.

Em diversa ocasiões, foi ele quem segurou a pressao de setores do PT que clamavam por mudanças mais rápidas ou até a eliminaçao dessa política.

Ontem mesmo, o ministro Palocci afirmou que a Casa Civil com Dirceu foi uma importante "trincheira" para a Fazenda. E era mesmo.

Ata do Copom, sem pompa

Há que se ter uma boa memória para lembrar que reuniao e que ata do Copom passaram tao despercebidas como essas últimas. Sobretudo na imprensa.

O resumo do que os diretores do BC disseram na ata: os juros nao caem tao rápido, uma hipótese com a qual o mercado começava a namorar; e a atividade nao anda assim tao ruim. Dentro do esperado, diria o Bevilaqua.

Tese interessante de um conhecido economista: a política econômica do governo está com a corda toda no meio dessa crise, mas precisará em algum momento mostrar resultados. Ou ao menos uma promessa de resultados.

Severino no mercado

No encontro recente promovido pelo CSFB, o presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti, gabou-se de suas "vitórias" contra o presidente Lula, mostrando a independência do Parlamento em relação ao Poder Executivo.

Quando questionado sobre qual foi a maior vitória, não teve dúvida: a sua própria eleição para a Presidência da Câmara.

Quem participou do encontro saiu dali com uma certeza: Severino pode não ter aquele estofo intelectual, tudo bem, mas também não é nem um pouco bobo.

Juris na crise

Dois esclarecimentos de ordem jurídica, sobre pontos que todo mundo costuma errar, que podem ter alguma relevância daqui para frente:

1) Não confundir cargos em comissão com funçoes de confiança no setor público. Para os primeiros, podem ser indicados qualquer pessoa (e é aqui que o governo Lula andou inchando - ok, ok, em boa parte por decisão do TCU). Já as funçoes de confiança só podem ser exercidos por servidores de carreira do setor público.

2) O crime de responsabilidade pelo qual eventualmente o presidente Lula poderia ser acusado não é o de prevaricação, como têm afirmado alguns parlamentares, mas sim o de condolescência criminosa. Prevaricar só valeria para quem tem a função pública, neste caso, de fiscalizar a corrupção. O de condolescência é que se refere a não denunciar determinadas acusações.

E tome política...

Cansado da crise política?

Pode se preparar: as CPIs têm prazo de 180 dias. Prorrogáveis. Vão emendar em cheio no auge da discussão eleitoral para 2006. E ao contrário da CPI do Collor ou dos anões do Orçamento, essas têm cobertura em tempo real por parte das TVs.

Além da CPI dos Correios, tem CPI dos Bingos e CPI do Mensalão que podem vir por aí... ótima oportunidade para os nobres parlamentares aparecerem na telinha, indignados como sempre. As liderenças do governo tentam, no entanto, restringir as investigações apenas à CPI dos Correios.

Bom...curiosidades:

Se as CPIs forem da Câmara dos Deputados, a regra determina que só podem haver 5 simultâneas. Se forem do Congresso ou do Senado, nao há limite.

Elas continuam funcionando no recesso parlamentar.

E têm poderes para determinar as quebras de sigilo fiscal, bancário e telefônico dos envolvidos sem a necessidade de autorização judicial. Para gravar conversas telefônicas, aí sim se exige autorização de um juiz.

Meirelles sai, mas no momento certo

Hipótese possível 1: o presidente do BC, Henrique Meirelles, sai na ocasião de uma reforma ministerial digna do nome.

Hipótese possível 2: julgado inocente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Meirelles deixa o cargo logo em seguida.

Quem sabe em 2007?

Pelas declarações recentes dos ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo, fica mais ou menos claro que a discussão em torno de uma meta de déficit nominal zero para as contas públicas é coisa para um futuro um tanto mais distante...

Tou nem aí....

A reabertura do Global 15 nesta semana pelo Tesouro Nacional reforça a estratégia de se engordar a liquidez de pontos específicos na curva da dívida externa brasileira.

É a terceira vez seguida que o governo faz isso.

Besteira afirmar, portanto, que se trata de uma emissão "encomendada" por investidor específico.No mais, comprova que o investidor estrangeiro não está nem aí - pelo menos por enquanto - para a crise política em Brasília.

PIBB 2

Está nos finalmente o detalhamento da segunda rodada de venda de ações da carteira do BNDES, nos moldes do PIBB. Os detalhes - entre os quais a não utilização do FGTS - devem sair nos próximos dias.

Mais prazo, menos apetite

O BC mudou a regra e os exportadores estão tendo mais prazo para internalizar os dólares de suas vendas lá fora. Mas, dado os patamares de juros e câmbio atuais, não estão nem de longe utilizando essa flexibilidade.

"Com uma taxa de retorno destas aqui dentro e com o dólar derretendo, quem é que vai querer manter seus recursos lá fora?", comenta um experiente executivo do setor.