O impossível ministério de Severino

Parece brincadeira de mau gosto, mas já começam a circular aqui e ali especulações sobre o que seria um possível corpo ministerial na brevíssima gestão (30 dias) de Severino Cavalcanti na presidência da República.

Fiquem tranquilos: não vai acontecer.

Não tem preço

Câmara e Senado têm nesta quarta-feira uma reunião conjunta para "analisar" os vetos presidenciais de mais de 70 projetos de lei aprovados nas duas casas.

O potencial de esqueletos caso decidam derrubar alguns vetos é enorme, mas o objetivo da reunião parece ser mesmo o de derrubar um veto específico: o reajuste de 15% para os sevidores do Congresso, vetado em maio pelo presidente Lula.

Representa um custo anual adicional próximo dos R$ 600 milhões. Pode-se dizer que é pouco, tudo bem, mas o custo político de uma derrubada de veto presidencial não tem preço. A última vez que isso ocorreu foi na gestão Sarney. Ou melhor: no pior momento político da gestão Sarney.

Houve uma vez que isso aconteceu com FHC, é verdade, mas a pedido do próprio presidente na época.

Só faltava essa...

Não bastasse todo o escândalo político, agora tem jurista questionando a legitimidade de projetos aprovados no Congresso sob o manto do suposto "mensalão".

No site da Unesp, por exemplo, pode-se encontrar a presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (São Paulo), juíza Dora Vaz Treviño, com o seguinte questionamento:

“Qual é a validade de uma Emenda Constitucional como a da Reforma da Previdência Social, aprovada sob a égide de interesses que não são os dos seus representados? Esta é uma questão que, provavelmente, será proposta perante o Poder Judiciário, na hipótese de o mensalão ser confirmado"

Tem mais a cara destes questionamentos de ordem jurídica que nunca sairão desta esfera, ainda bem, mas que dá um medinho, ah isso dá....

Fundos de pensão: lupa errada

Será um exercício interessante, e quem sabe até dramático, a quebra do sigilo bancário dos fundos de pensão. Mas ela dificilmente trará grandes revelações sobre o esquema de corrupção que está sendo investigado pelas CPIs.

É que a lupa está errada.

Há quem diga que investigar as taxas de corretagem pagas pelas fundações a algumas corretoras e as taxas de administração pagas a determinados gestores traria resultados bem mais interessantes...

PIB anual será ou não revisto para cima?

Pode acreditar: tem muita gente no mercado financeiro que mudaria sua projeção de crescimento deste ano para algo próximo dos 4% caso se confirmem os números positivos do PIB no segundo trimestre - que sai no dia 31 de agosto.

Mas boa parte deverá optar simplesmente por não fazer essa revisão para cima, uma vez que as incertezas sobre o impacto da crise política no andamento da economia no segundo semestre são grandes.

E tem gente que ainda diz que a crise não afeta a economia...

100% Murilo

Alguns representantes do Ministério da Fazenda têm emitido o recado de que, numa eventual saída do ministro Antonio Palocci, fica mesmo em seu lugar Murilo Portugal, atual secretário-executivo da Pasta.

E para quem fala sobre a falta que vai fazer a habilidade política de Palocci, a resposta é a lembrança de que Murilo já foi secretário do Tesouro Nacional, cargo no qual pegou o "jeito" da delicada relação política com os parlamentares.

Mais: Portugal também tem bom relacionamento com diferentes alas da oposição, especialmente no PSDB.

Agora, com o PT, realmente a coisa seria um tanto diferente....

Palocci, insubstituível

De um experiente economista:

"O fato de o ministro Palocci ter convocado uma entrevista coletiva em pleno domingo para afirmar, entre outras coisas, que qualquer pessoa é substituível, só reforça a percepção do quão insubstituível ele é."

O sigilo do MP

A bronca da Fazenda sobre a "indiscrição" dos promotores do Ministério Público ao revelar as acusações de Rogério Buratti contra o ministro Palocci, na última sexta-feira, surtiu efeito também em outros depoimentos.

Na própria sexta, o Ministério Público Federal divulgou nota informando que não poderia dar maiores detalhes sobre o depoimento feito naquele dia pelo doleiro Toninho Barcelona. A seguir, a íntegra da nota do MPF:

"Antônio Oliveira Claramunt - também conhecido como Toninho da Barcelona - esteve em Curitiba, nesta sexta-feira, 19 de agosto, para prestar esclarecimentos ao Ministério Público Federal (MPF). As informações prestadas têm caráter sigiloso e dizem respeito aos processos em que Claramunt foi condenado a 25 anos de prisão, em sentenças proferidas em Cascavel, Curitiba e São Paulo, e protegidas por sigilo legal e judicial.Em razão do sigilo, os procuradores lamentam não poder prestar quaisquer informações."

PIB robusto

O PIB do segundo trimestre tem tudo para ser uma ótima notícia no meio deste escândalo que aflige o Planalto. Tanto o número virá bom, estimam os economistas, como a taxa de investimento também será bastante positiva.

Lixo atrai lixo

Um experiente político de Brasília avisa: "investigar as denúncias de Buratti sobre o esquema das empresas de lixo com prefeituras petistas renderá muito mais do que ir atrás das acusações contra o Palocci."

Para ele, muita gente graúda, inclusive de grandes capitais nacionais, estariam enroladas caso o esquema do lixo venha à tona. "Se fuçar no lixo vai se encontrar muita sujeira", ironiza.

Ibope no fim de semana

Vem aí uma pesquisa Ibope com novas avaliações sobre a popularidade do presidente Lula e cenários para as eleições de 2006.

Com resultados bem diferentes daqueles observados nessa tal pesquisa (também do Ibope) em que Lula fica atrás de Serra, Alckmin ou FHC - aliás, feita por telefone e por isso, segundo o próprio Ibope, com problemas de representatividade.

A única surpresa será Lula tecnicamente empatado com Serra em um eventual segundo turno. Na verdade um pouquinho atrás do candidato tucano, dentro da margem de erro.


A pesquisa será divulgada em uma revista de circulação semanal.

Nome e sobrenome

São tantas as inclusões e modificações na chamada "MP do Bem" que ela já ganhou um carinhoso apelido: "MP do Ótimo"

Não há risco Severino!

É bem claro o artigo 81 da Constituição Federal: passados dois anos de mandato e vagos os cargos de presidente e vice-presidente da República, o presidente da Câmara assume interinamente apenas pelo prazo de 30 dias, para convocar eleições indiretas naquela Casa (aliás, uma rara exceção de eleição indireta no Brasil permitida pela Constituição).

E mesmo se tudo isso que estamos vendo acontecesse nos primeiros dois anos de governo, o presidente da Câmara assumiria interinamente apenas pelo prazo de 90 dias. Também para convocar eleições, só que neste caso diretas, com o voto da população.

O mesmo vale para os outros dois da linha sucessória (Renan Calheiros e Nelson Jobim, respectivamente), caso Severino também se enrolasse no escândalo político.

Lula continua bem. Já o PT....

Vejam só que coisa interessante: a avaliação popular sobre a figura do presidente Lula, mesmo depois de tantas denúncias e até ensaio de impeachment, registrou ligeira alta em pesquisa realizada por um conhecido instituto de pesquisa na última semana (antes do depoimentod e Duda Mendonça na CPI dos Correios).

Chega a impressionar a resistência do presidente. A avaliação do governo continua mais ou menos estável.

O mesmo não acontece, no entanto, com a avaliação do eleitorado sobre o PT: os que consideram a imagem do partido boa vem despencando nas pesquisas de opinião.

Dólar à vista em setembro na BM&F

A BM&F coloca a roda de dólar pronto (à vista) no ar no mês de setembro. Acabará, assim, a formação de preços nas mesas das poucas corretoras que hoje dominam o mercado interbancário.

Mais: em 2006, a BM&F implementará uma roda de negociação para o euro à vista.

Política não afeta investimentos

Uma ótima notícia: a crise política não tem motivado engavetamento ou cancelamento dos planos de investimentos por parte das empresas. É o que afirmam diretores de Corporate de grandes bancos e diretores de grandes consultorias, como Price e KPMG.

Se há adiamentos de planos, tem muita mais a ver com a expectativa de demanda interna ou outras variáveis de caráter unicamente econômico - como o câmbio.

Cuidado, portanto, com o chororô típico das entidades representativas de classe (Fiesp, Iedi, etc.) que andam dizendo que o investimento está sendo afetado com a crise política.

Para o bom entendedor...

Andam bem menos enfáticas as afirmações do secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, de que o governo ainda trabalha com uma meta de superávit primário de 4,25% do PIB para 2005.

Quando questionado sobre o tema, chegou a dizer que essa é a meta "por enquanto". E sempre lembra que "poupar um pouquinho" sempre é positivo...

Segurando a onda

Uma coisa é certa: algumas notícias referentes ao escândalo de corrupção em Brasília têm sido simplemente barradas nas sucursais de jornais de grande circulação.

Sem maiores explicações.

Mensalão, ainda sem provas

Nunca é demais lembrar: mesmo após tantas investigações e evidências, ninguém até o momento conseguiu comprovar o recebimento de "mensalão" pelos parlamentares em Brasília.

Ninguém disse que pagou, ninguém disse que recebeu.

Uma hipótese: o dinheiro do esquema "Valério" para a quitação de dívidas eleitorais, de petistas e aliados, era liberado sempre próximo de votações importantes. Uma espécie de "mensalão" indireto. Mas é só uma hipótese...

Ladeira abaixo

Um dos maiores bancos privados domésticos divulgará em breve sua nova estimativa para o câmbio ao final de 2005: R$ 2,35.

Fluxos continuam positivos

De um representante do maior dealer da dívida externa brasileira:

"Apesar da subida na taxa dos Treasuries, ocasionada por bons motivos, a expectativa para o fluxo de recursos destinada aos mercados emergentes ainda continua bastante positiva"

Cá para nós, ainda bem...

PT pode adiar eleições internas

Alguns dos atuais dirigentes do PT gostariam de ver adiadas as eleições internas no partido, marcadas para o próximo dia 18 de setembro. Avaliam que se ela fosse adiada em um mês, o número de parlamentares que prometem se desligar da legenda seria menor.

Outros setores do partido afirmam que isso é "golpismo."

E agora, José?

O vice-presidente José Alencar sumiu de cena.

Comenta-se que, dependendo do andar da carruagem, poderá trocar de partido. Há quem diga que poderia ir para o PFL (dizem que ele é próximo do PFL mineiro de Clésio de Andrade) e há quem diga que ele poderia voltar ao PMDB.

A conferir

Uma coisa, no entanto, é certa: Alencar tem evitado ao máximo emitir qualquer sinal sobre o que seria um possível governo sob sua batuta.

Corrida

De um atento observador da cena política em Brasília:

"A intensidade com que os fatos novos da crise estão aparecendo na mídia é proporcional aos esforços em Brasília para abafá-la"

Para ele, o cheiro de pizza é notável.